As elaborações e reflexões são fruto da prática do autor tanto como psicanalista quanto “ser-para-o-teatro” que exerce há mais de 15 anos como dramaturgo, diretor de teatro e, por vezes, ator. Quinet - um dos maiores nomes da psicanálise lacaniana no país - começou a fazer teatro e foi considerado um “herege” tanto pelo meio psicanalítico quanto pelo meio teatral. Na obra, o autor descreve a dificuldade que encontrou para que fosse aceito seu trabalho de transmissão da psicanálise pela via de teatro. Mas, ao longo destes anos, seus espetáculos lotam teatros no Brasil e em outras partes do mundo, tendo já encenado suas peças em Paris, Nova York, Londres e lançado seus livros de psicanalise em várias cidades do Brasil e do mundo.
Quinet desenvolve e demonstra amplamente a tese de que o Inconsciente é estruturado como um teatro. Ele mostra como Freud e Lacan utilizaram o teatro, respectivamente, para criar e renovar a psicanálise, com os conceitos de conflito, cena, catarse, tragédia (Édipo Rei e Antígona) e o ato do analista como uma representação teatral (semblante lacaniano). Assim, correlaciona a psicanálise e o teatro inspirado por essas duas práticas que trabalham com o “Inconsciente artista”: “Sim, não se trata apenas de teorias e sim de praxis. Drâma, que vem do grego, significa “ação” e se refere à arte de encenar um texto. Não é o que faz o analisante, como Freud logo percebeu ao dar o primeiro nome de “tratamento catártico” ao tratamento analítico? O analisante coloca em ação seu drama na cena analítica. O teatro, para Freud, é um tratamento por meio da dramatização. A psicanálise, por sua vez, permite encenar no divã o “teatro privado” de cada um”, conclui. Todo espetáculo é, em maior ou menor grau, uma encenação do Inconsciente. Assim como o sonho o teatro permite transgredir os limites da realidade, do tempo e do espaço e a cada pessoa ser o personagem que quiser e realizar até o impossível. A partir da psicanálise Quinet desvela os meandros da estrutura da arte teatral e o gozo do espectador, o laço social que estabelece, sua função política e sua relação com a pulsão sexual, a histeria, a poesia, a música e o corpo. Um tratado inédito que estava faltando
O livro é dividido em duas partes. A primeira é composta de textos sobre a relação da psicanálise com o teatro, estabelecendo relações sobre a teoria e conceito entre ambos. Na segunda parte, o autor apresenta suas peças de teatro, com reflexões suas e de comentadores sobre seu conteúdo, encenação e articulação com a psicanálise. Descreve o conjunto, peça por peça, na ordem da produção artística, na forma ensaística de um memorial para apontar o quê da psicanálise pretende transmitir em cada peça.
Em vinte capítulos, as teses do autor trazem um viés inovador na teoria e na prática da psicanálise. Para os leigos, amantes e estudiosos das artes cênicas este livro é uma porta de entrada na psicanálise - com seus conceitos, sua clínica e implicação nas artes - a partir do espetáculo teatral. Com linguagem leve e precisa, a obra pode ser lido na sequência ou de forma salteada, pois cada capítulo tem um enfoque que pode ser interpretado isoladamente. O leitor poderá fazer suas próprias articulações dos capítulos entre si.
“Minha experiência como analista e homem de teatro me fez perceber que o Inconsciente é teatral: composto por um texto, por cenas (sonhos e fantasias) e se manifesta no corpo falante e performático com sintomas e atuações. O teatro é o lugar do Inconsciente em Cena cujo espetáculo se acende no fulgor de um momento como um sonho, um lapso ou um chiste, para o gozo do espectador”
Sumário:
PREFÁCIO 11
INTRODUÇÃO 17
PARTE 1 25
PSICANÁLISE COM TEATRO – A TEORIA DE UMA PRAXIS
I O INCONSCIENTE TEATRAL – HERESIA (RSI) 37
Homologia entre psicanálise e teatro 37 Dit-mansions – as mansões do dito 40 A cena analítica e o semblante 45
II O SER-PARA-O-TEATRO 51
Retrato e mímesis 51 O homem: ser-para-a-arte 53 Um ser teatral 54 O mistério da arte 56
III O GOZO DO ESPETÁCULO 61
Catarse e Inconsciente 61 Fontes de gozo 63 O gozo do fort-da 65 O teatro da crueldade 66
IV O OLHAR E A VOZ EM FOCO 73
O gozo do dar-a-ver 74 Tocar com os olhos 77 Um mais-de-voz 79 A presença 82 Teatro: palco da tycké 84
V “A PEÇA É A COISA…” – LACAN COM SHAKESPEARE 89
Representar Hamlet 91 The play is the thing 94 A enunciação teatral 95
VI TEATRO E POLÍTICA 103
Dramático e épico 104 A função didática do teatro 108 Despertar o desejo de saber 111 O mais-de-gozar comunitário 113
VII TEATRO E LAÇO SOCIAL 119
O poetator 119 Discurso sem palavras 121 Atuar como outro: o semblante 124 Construindo o personagem 127
VIII SEMBLANTE E DISTANCIAMENTO 133
Semblante: um conceito 133 O analista-ator 136 O semblante e a máscara 138 Identificação e distanciamento 140 Estranhamento 142 Lacan em cena 145
IX CENAS DO INCONSCIENTE 151
A Outra Cena e o sonho 153 A fantasia e sua função cênica 156 A cena histérica 158 A ob-cena do obsessivo 161
X HISTERIA E TEATRO 167
A grande simuladora 168 A coisa sexual 171 Encenação e acting out 174 Um meio supremo de expressão 175
XI O TEATRO-SONHO 183
Inconsciente atemporal 184 A realização do desejo… do espectador 185 Darstellbarkeit – a teatralização do Inconsciente 186 Operações oníricas no teatro 189 Doroteia e as botinas 191 O sonho de Strindberg 193 Uma ópera-sonho 195
XII TEATRO MUSICAL DO INCONSCIENTE 203
Saber sobre a lalíngua 206 Teatro joyceano de lalíngua 209 O teatro musical do fort-da 212 Interpretação 213
XIII CORPOEMA 219
O corpo é feito por arte 220 O sinthom’arte 222 O ator e a corpoiese 225
PARTE 2 231
PEÇAS DE TEATRO COM PSICANÁLISE – A TRANS-MISSÃO
I MEMORIAL TEATRAL – UM ENSAIO AUTOBIOGRÁFICO 241
Terror e miséria em cena 241 Deslumbramentos e vislumbres 244 Fiat lux – uma peça de teatro! 247
II TEATRO DA HISTERIA 253
A LIÇÃO DE CHARCOT: ABRAM-SE OS HISTÉRICOS!
Teatro histórico-histérico 254 Rebelde histeria 256 Histeria sublimada 259 Histeria política 261 Ficha Técnica 265
III REALIDADE OU DELÍRIO? 269
X, Y E S – O TEATRO ÍNTIMO DE STRINDBERG
Teatro êxtimo 270 Strindberg – um caso clínico 272 Quem é mais forte? Ela ou eu? 275 A paranoia em cena 276 Resistência à psicanálise: a heresia 278 Ficha Técnica 282
IV POESIA E PULSÃO DE MORTE 287
ARTORQUATO
Poeta do impossível 288 Pulsão de morte e criação 291 O empuxo-à-escrita 293 Tropical melancolia 296 Ficha Técnica 300
V ÉDIPO PELO AVESSO 305
ÓIDIPOUS, FILHO DE LAIOS
Édipo, objeto do Outro 307 Édipo transcultural 309 Permanência do Inconsciente 312 A maldição herdada… do psicanalista 314 As figuras de A mulher 317 A inserção do sujeito na pólis 320 O filicídio: avesso do parricídio 322 Ficha Técnica 325
VI O ANTITEATRO E O INCONSCIENTE MUSICAL 329
O SINTOMA – VARIAÇÕES FREUDIANAS 1
O script do semblante 330 Aula-espetáculo 332 O conceito de variações 335 A histérica e o obsessivo 338 A encenação com o analista-ator 340 O desejo, o ato e o enigma 342 “Se o médico persistir, consulte o sintoma” 345 Ficha Técnica 347
VII ATO – DO INÍCIO AO FIM 351
O ATO – VARIAÇÕES FREUDIANAS 2
A comédia e o riso 352 O Ato e suas variações 354 O Witz (chiste) como forma de transmissão 360 O semblante e o humor 363 Ficha Técnica 366
VIII A ANÁLISE EM CENA 371
HILDA E FREUD
Quem foi H.D.? 372 A análise: do relato ao palco 374 As epifanias de H.D. 377 O semblante de Freud 378 A versão inglesa – arqueologia freudiana 380 A versão castelhana – as duas Hildas 383 A versão brasileira 385 O que Hilda e Freud transmite 385 Elaborações em análise 387 Ficha Técnica 390
CIA. INCONSCIENTE EM CENA 395
ÍNDICE DE CONCEITOS 399
‘NOTAS’ 403
REFERÊNCIAS 413
LIVROS DO AUTOR 419
PEÇAS DE TEATRO PUBLICADAS 419
COLETÂNEAS ORGANIZADAS PELO AUTOR 420
Loja de Livros Atos e Divãs, de Antonio Quinet, é uma editora e livraria dedicada à literatura e psicanálise. Livros sobre psicanálise clínica, psicanálise, psicologia, para psicanalistas e psicólogos. Por uma Psicanálise mais acessível, com rigor teórico.